Há em mim uma bailarina, uma escritora, uma arquiteta, uma poeta.
Há ainda aquela menina ensaiando piruetas no chão de tacos da sala do apartamento. “Que bom que vocês não entulharam a sala com excesso de móveis”. Não tínhamos uma mesa de jantar; sobrava espaço para brincadeiras e sonhos. Recordo agora a sensação de tatear sonhos pela primeira vez.
Lembro de quando escrevi meu primeiro poema; minha mãe ficou esfuziante. O poema acabou indo para a gaveta. Poesia e piruetas não dão futuro: primeiro tem que vir o sustento. O resto pode vir depois.
As piruetas tiveram fim após uma séria distensão no ísquio esquerdo. Era a vida dando suas cartadas e me colocando de cara para o vestibular. Tornei-me arquiteta.
Entrei na roda do mundo. Corri, corri, corri. Adquiri diplomas, emprego, sustento: não me arrependo. Há tanto para colher pelo caminho, seja ele qual for. Acho que me realizei em cada uma das etapas e, agora, estou diante de uma nova onde me pergunto: como eu quero viver os meus 40+.
Não é como tatear sonhos pela primeira vez; é mais como colher pistas da minha essência cheirando os vidrinhos de tudo que vivi. Mas a arte dos aromas e da busca interior pede calma e pede tempo. Pede que eu esteja presente.
Diante da escrivaninha, perto da janela, houve uma menina escritora, segurando o lápis com muita força entre dedos desajeitados. Diante da escrivaninha, perto da janela, há agora uma mulher escrevendo a vida em suas mãos.
E o que escreve fala sobre sua essência. E o que vive fala sobre seus propósitos. E o que age fala sobre os seus valores. A vida é um longo caminho de reconexão.
A vida após os 40: um caminho de reconexão
Até o próximo post!
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